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O DEVIR HERACLÍTICO, A CONCRETUDE DO PENSAR E A CRÍTICA ESPECULATIVA DE G. W. F. HEGEL.
MARCONATO-MAGALHÃES, Marcelo - email: marconato.marcelo@gmail.com

A compreensão de que tudo devém nos remete à filosofia de Heráclito. Através de seu
livro Sobre a natureza foi-nos legado a compreensão original de que o ser não é mais que o não-ser, de que tudo corre, de que a essência das coisas é mudança. Dois milênios depois, Hegel, o filósofo da Ideia e do Espírito Absoluto, compreende a Filosofia como o desenvolvimento da compreensão do próprio conceito de Deus, enquanto totalidade e mais concreta realidade. Neste sentido, sendo o devir também parte do autoconhecimento da Ideia, Hegel buscou compreendê-lo como elemento integrante de seu sistema, já que, só assim, sistematicamente, é que podemos compreender a verdade de modo não unilateral. O devir e a filosofia heraclítica representam, desta forma, o momento do Devir na filosofia hegeliana. O terceiro momento do sistema científico elaborado na Ciência da Lógica é aquele caracterizado pela reconciliação de opostos: para que a ciência compreenda a si mesma efetivamente, faz-se necessário o ir além das compreensões iniciais indeterminadas de ser e de nada – a unidade de determinações opostas é a concretude do sistema hegeliano, e esta é obtida primeiramente com o devir. Portanto, o devir é a terceira categoria da ciência conforme o pensamento de Hegel, por ser justamente o momento que unifica e suprassume as (in)determinações lógicas anteriores, as quais não eram capazes de sustentarem-se por si mesmas: a necessidade do devir é posta, então, como a verdade do ser e do nada. O elogio hegeliano à filosofia heraclítica, então, consiste na constatação de que foi Heráclito o primeiro filósofo a ter compreendido a concretude do pensar, a concretude que é a verdadeira realidade como unificação de determinações opostas. A crítica, porém, está na perenidade do vir-a-ser: para Hegel, o devir é uma categoria que colapsa em si mesmo, já que é a união dos opostos ser e nada e da passagem de um para outro, não conseguindo estabelecer-se autonomamente devido a ser ele próprio desvanecer: a verdade do devir é, portanto, determinação e finitização – ele deve limitar-se para ser capaz de devir sem colapsar em seus momentos abstratos anteriores, ser e nada – deve ser tornar-se, portanto, ser determinado.

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