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REFLEXÕES SOBRE DA CRÍTICA DE NIETZSCHE AO VIR-A-SER DE HERÁCLITO

SIMÃO, Luciano Lourenço – email:lourencoluthier@gmail.com

Após estudar Anaximandro, Nietzsche se depara com um mundo novo. O vir-a-ser de Heráclito tinha forma, não anterior e nem posterior à matéria, mas simultânea a ela. Esse vir-a-ser é dinâmico, flui, mesmo que pareça estático. Esse novo mundo agora nega a dualidade de corpo e espírito e toda a eternidade se conforma. Para Heráclito, a contragosto de Aristóteles, tudo tem em todo tempo o oposto em si, tal qual o Yin Yang. Seu mundo intuitivo e imediato, é consequência do anterior e causa do próximo. Esse vir-a-ser é a eterna guerra entre os opostos, em oferenda perene à Dike, que rege todo o cosmos incluindo o homem e suas condutas.

Heráclito concebeu um mundo formado por múltiplas manifestações de matéria em constante atrito e regida por múltiplas e rigorosas leis, mas para ele, essas leis também se combatem mutuamente.

A partir da máxima de “Tales” (A água é a origem de todas as coisas), Heráclito estabelece sua tese, afirmando que mesmo a água e seus estados se sujeitam ao fogo. Mas então uma controversa. Cedo ou tarde, todo fogo se extingue e agora o filósofo chora à presença da hýbris. Ainda assim, Heráclito se mantem confiante e Nietzsche explica que toda a saciedade é temporária, como a criança que brinca na praia e se cansa da brincadeira, mas que logo descansa e volta a construir seus castelos de areia que o mar desmanchou. Todo esse movimento de vai-e-vem, de ser e deixar de ser, contempla tanto o cosmos quanto o homem e suas condutas, de tal forma, suas manifestações e formas múltiplas e singulares são contempladas igualmente, sendo a ele não-imputável um sentido moral, onde sua justiça se compara à um cão que late a todos que não conhece, ou o asno que prefere a palha ao ouro, pois assim lhe convém.

Frente à grande complexidade do assunto, fez Heráclito seu trabalho de explicar a altura suas deduções. No entanto, em seu tempo e pós ele, seu trabalho não foi compreendido pelos medíocres, como que falasse por enigmas de coisa alguma. A obscuridade de seu pensamento, presenteia os espíritos raros e condena os medíocres ao rabugento movimento de dar as costas.

Incompreendido e orgulhoso, Heráclito não fazia conta da opinião de seus contemporâneos. Se solitário era, solitário seria e a insatisfação seria seu combustível para o além dos grilhões da vida, onde em seu mundo se refugiava dos medíocres. Heráclito corria em procurar entender o tal “Originador” e seus brinquedos, onde seu esforço e sensibilidade o destacou do homem comum, mesmo entre os seus. Tal convicção inspirou Nietzsche profundamente, onde a significância da dinâmica do pensamento de Heráclito parecia uma profecia obscura, a ser apreciada muito tempo após sua partida. 

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