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A CONSTITUIÇÃO DO EGO TRANSCENDENTE NO JOVEM SARTRE

PIZELLI, Fabrício Rodrigues

Jean-Paul Sartre, após conhecer o conceito de “intencionalidade” de Edmund Husserl, publica, em 1936, A transcendência do ego, obra na qual estabelece princípios fundamentais que, futuramente, virão a concretizar sua definição de “consciência” e, por conseguinte, as investigações fenomenológicas em O ser e o nada. O filósofo existencialista francês, além de ultrapassar as limitações do idealismo e do realismo, toma o Ego como transcendente, isto é, um existente no mundo, no qual passa a ser apreendido e estudado pela consciência. Nesse aspecto, a consciência passa a não ser somente um conhecimento de si, mas, também, um ato espontâneo transcendente. Dessa maneira, o Ego torna-se unidade dos estados, das ações e, facultativamente, das qualidades. Os estados, para Sartre, aparecem para a consciência reflexiva e constituem objetos de uma intuição no plano concreto — por exemplo, o ódio. As ações inerentes ao Ego englobam as ações intencionais da consciência ativa (como tocar piano) e, também, ações psíquicas (como duvidar e raciocinar). E, por último, a qualidade, apresentando-se com uma potencialidade manifestada como algo que existe realmente (como as virtudes, os gostos, as tendências etc.). As propriedades constitutivas buscam explicar, de maneira fenomenológica, a relação entre a consciência e os fatores exteriores a elas apresentados, ao passo que as características do Ego podem se enquadrar na intencionalidade. A transcendência é importante, pois, se esta unidade de estados, ações e qualidades fosse inerente à consciência, não seria possível assegurar a translucidez da consciência, ou seja, o Ego passaria a ser seu próprio fundamento, o que, na teoria existencialista de Sartre, é algo absurdo. Portanto, o objetivo desta pesquisa é o de investigar a constituição desse Ego transcendente, mantendo a perspectiva da autonomia da consciência irrefletida, de maneira a evidenciar que esta teoria sustenta a pura relação da consciência com as coisas exteriores, sem sucumbir às teorias kantianas e husserlianas da presença formal e material do Eu na consciência.

 

Palavras-chave

Jean-Paul Sartre; ego transcendente; intencionalidade.

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