Razão e Revelação: a crítica de Adorno à religião revelada
SGAI, Giovanni Corradi – UNIFESP
Orientador: Luciano Gatti
Agência de fomento: PIBIC-CNPq
Palavras-chave: Religião; Razão; Revelação; Capitalismo Tardio; Adorno
O presente trabalho pretende explorar a crítica de Theodor W. Adorno à religião revelada do século XX, apresentada no ensaio "Razão e Revelação", publicado em Palavras e Sinais: Modelos Críticos II. A crítica gira em torno da investigação da posição do indivíduo em relação à religião no contexto histórico, social, filosófico e científico do capitalismo tardio. Seguiremos os passos do filósofo e reconstruiremos o processo histórico de formação do renascimento religioso por ele apresentado: dos tempos medievais, onde a fé e a razão mantiveram uma tensão criativa nas doutrinas filosóficas da época, configurando-se assim como uma visão de mundo marcada por uma tradição e um paradigma moral para explicar a relação do indivíduo com sua realidade histórica, social, política, científica e filosófica, para o diagnóstico contemporâneo, onde, após severos ataques da razão iluminista do século XVIII, a união entre razão e revelação é quebrada e, consequentemente, a fé na revelação perde seu valor de verdade tornando-se um produto da arbitrariedade do sujeito e que permanece graças a uma abstração desesperada. Para entender melhor essa configuração atual da religião revelada, relacionaremos a crítica do ressurgimento religioso do século XX à ideia de capitalismo tardio, criada por Adorno na conferência “Capitalismo Tardio ou Sociedade Industrial?”, tentando mostrar como a integração do indivíduo a uma sociedade administrada é falha na medida em que a máquina social aparece ao sujeito através do viés do sentimento subjetivo da ausência de vínculos, mesmo que seja enterrado pelas relações de produção, portanto, totalmente ligado à sociedade, ao contrário de outras configurações sociais. Neste contexto, a religião revelada assume a função de um consolo, um suporte, para preencher o vácuo deixado pelo aparecimento dos elos mais verdadeiros, convertendo-se, no sujeito, em necessidade de reduplicação que, enquanto não dispõe de um poder autoritário, apoia em instituições que tem uma pretensão suprapessoal. Para discutir essas questões, apresentaremos a tensão criativa do paradoxo religioso, a crítica do Iluminismo do século XVIII à religião, como é o renascimento religioso no século XX e até que ponto ele se relaciona com as peculiaridades do capitalismo tardio. Nosso objetivo é discutir a posição do indivíduo em relação à religião a partir de um antagonismo próprio do capitalismo tardio: o indivíduo está fortemente integrado à sociedade mas, ao mesmo tempo, essa integração lhe parece um isolamento, que resulta em necessidade subjetiva de ligações, particularmente aquelas oferecidas pela religião revelada.