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Intencionalidade e consciência irrefletida: contribuições ao problema do solipsismo em Sartre

PIZELLI, Fabrício Rodrigues –  FFC/UNESP

Orientador: Paulo César Rodrigues

Agência de Fomento: FAPESP

Palavras-chave: Consciência Irrefletida; Intencionalidade; Solipsismo; A Transcendência do Ego; Sartre

Pretende-se, nesse trabalho, apresentar algumas características da noção de intencionalidade, relacionadas ao estatuto da consciência irrefletida, expostas em A Transcendência do Ego, de Jean-Paul Sartre, no intuito de ressaltar alguns avanços de Sartre perante o problema do solipsismo. Desse modo, na abordagem negativa d’A Transcendência do Ego, Sartre estabelece, via intencionalidade, que o “Eu” não existe na consciência, de modo que ele surge para a consciência apenas na consciência refletida e reflexiva. Contudo, há um primeiro grau de consciência em que o “Eu” não está presente, a saber, a consciência irrefletida. Para Sartre, a consciência irrefletida é absoluta, ela não depende de nada para existir, de modo que ela pode ser caracterizada como uma fonte de espontaneidade em sua própria existência, na relação com o seu correlato. Dessa maneira, a consciência irrefletida, em Sartre, é o primeiro passo para o processo de surgimento do “Eu” na consciência. Contudo, esse “Eu” não poderia existir de maneira prévia na consciência, pois autorizaria a possibilidade de um solipsismo, do qual Sartre acusa Kant e Husserl. Com efeito, com a tese do irrefletido, Sartre consegue demonstrar de fato um modo de a consciência se relacionar com um objeto sem a presença de um “Eu”. A consciência irrefletida é consequência direta da purificação do campo transcendental, através da intencionalidade. Por isso, a articulação da noção de intencionalidade com a consciência irrefletida apresenta um avanço significativo em relação ao problema do solipsismo, porque a intencionalidade destitui o “Eu” de sua posição privilegiada na consciência e o irrefletido estabelece o início de um processo de surgimento do “Eu” na consciência, sem recurso ao solipsismo. Além disso, a consciência irrefletida, em Sartre, permite dispensar estruturas como, por exemplo, o inconsciente, pois trata-se de uma consciência translúcida que não é consciência de si mesmo, mas é, ao mesmo tempo, consciência dos objetos no mundo. Desse modo, torna-se impossível a existência de uma consciência que não seja consciência de si mesma, ou melhor, uma consciência que conhece.

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