Deus em Hegel: panteísmo ou panenteísmo?
FERNANDES, Guilherme Gregório Arraes – FFC/UNESP
Orientador: Ricardo Pereira Tassinari
Palavras-chave: Hegel; Filosofia da Religião; Panteísmo; Panenteísmo
Nas Lições sobre Filosofia da Religião (1827), Hegel afirma que a compreensão de Deus é o resultado da filosofia, isto é, do desenvolvimento da Enciclopédia das Ciências Filosóficas em compêndio. A Enciclopédia começa com o domínio lógico ou do puro pensamento em seu desenvolvimento e, em seguida, passa para a natureza. O terceiro e último domínio a que chega é a esfera do espírito, em que, como espírito finito, permanece em conexão com a natureza e se eleva ao Espírito Absoluto. O resultado de todo esse desenvolvimento é a compreensão de Deus e sua demonstração. Ele é o universal em-si e para-si que abarca e contém absolutamente tudo. Enquanto resultado, ele também é o início. Em outras palavras, Deus é a verdade do desenvolvimento do sistema e o próprio desenvolvimento. Na consciência religiosa, diz-se que Deus é o princípio e o fim de todas as coisas, aquilo do qual tudo depende. A concepção hegeliana de Deus enquanto o Todo que contém e fundamenta tudo, em sua época, recebeu de alguns o rótulo de panteísmo. Um dos detratores de Hegel foi o teólogo protestante August Tholuck. Nas Lições sobre Filosofia da Religião de 1827 e no prefácio a edição da Enciclopédia do mesmo ano, Hegel se ocupa em algumas passagens de uma réplica à acusação panteísta de Tholuck a sua filosofia. Na visão do filósofo de Berlim, tais acusações são infundadas, pois a sua filosofia não afirma que Deus é tudo simplesmente. A visão panteísta, de acordo com Hegel, concebe a divindade como sendo a coleção ou a soma dos particulares, tudo (pan) é Deus (theos). Nesse sentido, a divindade é reduzida à miríade de coisas particulares. Na filosofia especulativa de Hegel, ao contrário, Deus é tido como a verdadeira infinitude, isto é, a infinitude que não é a mera soma dos finitos nem algo de transcendente. O infinito não pode simplesmente ser algo oposto ao finito, como se o segundo fosse concebido por si e permanecesse firme em si mesmo. A verdadeira infinitude abarca o finito enquanto o verdadeiro atual, enquanto aquilo que se mantém por si, o finito, por sua vez, é para um outro. De acordo com Peter C. Hodgson e Robert R. Williams essa compreensão pode ser denominada panenteísta, isto é: tudo (pan) em (em) Deus (theos). Nessa visão, a finitude está contida na infinitude, mas a última não é redutível a soma total dos finitos existentes. Essa é uma visão holística e não reducionista.