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O sonho em Bergson

PONTES, Leonardo Ribeiro Celeghini – FFC/UNESP

Palavras-chave: Sonho; Memória; Percepção; Mente-Corpo

Em 1901 em uma conferência, Bergson discorreu a respeito do sonho nos levando a uma compreensão de seu funcionamento, abordando questões referentes à memória, percepção e inteligência, assim como expõe de forma bastante clara a relação mente-corpo. Bergson em Matéria e Memória defende que todas nossas memórias são conservadas, que nada se perde e que nossas ações consistem precisamente numa máxima de todas as nossas lembranças, como num estado de atenção, nos voltamos para aquilo que nos interessa mais, e sobre isto debruçamos toda uma consciência impregnada de memórias, enquanto, ao mesmo tempo, esta imagem já nos fornece novas memórias. Portanto há um esforço para que possamos reconhecer e interagir com o mundo a nossa volta, este que necessita da atuação na memória. No entanto, quando dormimos, ou em termo bergsoniano, quando nos desinteressamos, nossas lembranças continuam a saltar, preenchendo nossas percepções de maneira distinta, ou seja, um ruído pode acionar uma lembrança diferente daquilo que é o próprio som. Ao dormir não fechamos nossos sentidos, apenas nos tornamos indiferentes ao que nos cerca, o que nos leva ao sonho, este que consiste em lembranças que se lançam sobre nossas percepções (estas que já não damos a atenção), mudando o sentido que elas poderiam ter caso estivéssemos acordados. Como no exemplo dado por Bergson em sua conferência, um latido de cachorro pode soar como gritos de um auditório, pois justamente o sonhador não está interessado em discernir aquilo como um latido e, portanto a lembrança que preenche tal percepção pode compô-la de maneira distinta. Podemos compreender, também, o sonho como criador, pois nossos sonhos não estão isentos de inteligência; podemos encontrar soluções de problemas ou composições de novas ideias enquanto dormimos, pois com o trabalho de nosso intelecto enquanto dormimos, podemos preencher lacunas de forma diferente daquela de quando estamos acordados, ou seja, lembranças que não poderiam ocorrer em nosso estado de atenção, memórias inconscientes viriam à tona no auxílio de tal problema, pois como colocado por Bergson, mesmo que os sonhos pareçam absurdos eles não estão desprovidos de lógica. Portanto podemos notar que a partir do sonho, Bergson traz diversas discussões e com estas elucida bem seus pensamentos e ideias.

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