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A forma pelo conteúdo: o cronotopo e as discussões deterministas-fatalistas em Jacques le fataliste et son maître, de Denis Diderot

ALMEIDA, Luca Barreiro Lopes de - IBILCE/UNESP

Orientadora: Flávia Falleiros

Palavras-chave: Cronotopo; Filosofia; Literatura; Forma; Conteúdo

O romance pode, como gênero escrito, abranger em sua composição os mais variados saberes. Isso possibilita, então, a relação entre a própria obra estética com a unidade postulada, que, deste modo, dialogam constantemente. Quando ocorre a comunicação entre o fazer literário e filosófico, a obra ficcional discute a realidade humana e a condição nas quais os homens vivem. Desse modo, a ficção consegue abarcar o filosófico e atribuir à sua diegese os questionamentos semelhantes aos desenvolvidos em seus tratados. É exatamente este fenômeno que encontramos em Jacques le fataliste et son maître em que o filosófico e o romanesco se relacionam constantemente, de forma que esta obra tenta, a partir do risível, analisar certos pontos semelhantes aos tratados morais e metafísicos. Não obstante, este romance diderotiano não propõe questionamentos filosóficos apenas a partir do seu conteúdo, mas sim a partir da forma, que, na verdade, estrutura-o. Na discussão em questão, propomos que o cronotopo (BAKHTIN, 1990), o espaço-tempo do romance, participa dos questionamentos sugeridos em uma interpretação do corpus. Podemos adiantar que em Jacques, le fataliste et son maître é formado por diversas histórias que constituem o todo da obra. Elas se intercalam e se interrompem e, por conta disso, estruturam um cronotopo fragmentado, confuso e, em uma rasa interpretação, “desorganizado”. Na verdade, essa aparente “desorganização” do tempo e do espaço arquiteta a desarmonia entre o sujeito e a realidade, semelhante aos questionamentos deterministas-fatalistas que constituem o conteúdo da obra. Além disso, em nossa interpretação, associamos a “cadeia secreta” (MATTOS, 2004), isto é, o encadeamento das diversas cenas de Jacques, às quebras mecânicas (BERGSON, 1960) que também, por mais que sejam procedimentos primeiramente cômicos, são mecanismos relativos à forma da obra em questão. Não podemos deixar de caracterizar, portanto, o propósito da desordem, que é auxiliar no tom cômico do romance.

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