Heleieth Saffioti e o princípio dos estudos feministas no Brasil: uma questão de classe
COVIZZI, Alice – FFC/UNESP
Orientador: Marcos Tadeu Del Roio
Coautora: BASTOS, Julia Erika Moreira – FFC/UNESP
Orientador: Marcos Tadeu Del Roio
Palavras-chave: Feminismo Classista; Heleieth Saffioti; Teoria Feminista no Brasil
A mulher, desde o fenômeno de aparecimento de diferentes classes sociais na história sempre se encontrou subjugada ao homem, em tal grau que o alcance de seu reconhecimento social inclui - em diferentes lugares e tempos históricos - o matrimônio como forma de felicidade pessoal. Contudo, o ritual do casamento no interior das sociedades regidas pela lógica patriarcal era na verdade a forma como o homem podia tomar total posse de sua esposa. Além disto, o papel da mulher ficou circunscrito durante muito tempo a cuidar das tarefas domésticas. No Brasil a condição da mulher não terá grandes avanços pelo menos até o início do século XX, quando vemos a iniciação de movimentações políticas a respeito. Mas será apenas na década de 60 deste mesmo século que a teoria feminista passa a ser sistematizada nesse país através da paulista Heleieth Saffioti. Nesse sentido, essa pesquisa tem como objetivo demonstrar a importância desta autora e sua produção teórica para a teoria feminista no Brasil. Na esteira da autora aqui estudada, o método de análise e exposição que compõe esta pesquisa é o da “dialética marxista” pautada no acúmulo de 60 anos de discussões lukácsianas no Brasil (1959 - 2019). Longe de contrariar a teoria-método de Marx, o que Georg Lukács propõe é um resgate do pensamento marxiano no seu em si. Com esse propósito, chama atenção para a argumentação ontológica daquele autor no que compreende a essência da organização social a partir da atividade humana do trabalho, composta fundamentalmente por elementos objetivos, mas sem deixar de reconhecer a importância daqueles correspondentes à subjetividade humana. Em todo esse sentido, as contribuições teóricas de Heleieth Saffioti são tomadas como práxis geneticamente oriunda da atividade de trabalho, a qual tornada real por um indivíduo singular e publicizada através da publicação de suas obras, é apropriada pelo gênero humano deixando contribuições valiosas para a compreensão da opressão e emancipação das mulheres da classe trabalhadora. Saffioti (1934 - 2010) cursa ciências sociais pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, em 1960. Em 1963 inicia os seus estudos sobre as condições femininas na Universidade Estadual Paulista de Araraquara. Na época, o Brasil sofria com o princípio do regime militar, o que dificultava a realização de suas pesquisas. O resultado de suas atividades se deu em 1967 quando Saffioti defende sua tese de livre-docência: “A mulher na sociedade de classes: mito e realidade”. Nesta a autora busca mostrar as consequências da sociedade capitalista na vida das mulheres brasileiras. A partir dessa obra é possível afirmar que suas análises são pioneiras no que se referem aos estudos feministas pois [1] desenvolve pesquisas em momento que era rareada a bibliografia em português sobre teoria feminista; [2] eram praticamente inexistentes dados sobre a condição social da mulher brasileira; [3] é a primeira autora brasileira a abordar essa discussão a partir do marxismo, mesmo, naquela época, sendo difícil o acesso à obra de Marx no país. Levando-se em consideração os resultados da pesquisa, conclui-se sobre a importância de Heleieth Saffioti não apenas para o debate sobre a condição da mulher em uma abordagem classista, mas reconhece-se a sua importância como marco original do desenvolvimento de teoria feminista no país como um todo, podendo ser considerada a referida obra o registro desse princípio. Até a publicação da obra de Saffioti (1976) o movimento feminista não possuía um teórico genuinamente nacional que possibilitasse a realização de análises das particularidades brasileiras sobre a condição da mulher diante do sistema capitalista, mas Saffioti modifica essa realidade.