Em Defesa da Responsabilidade Epistêmica
ANDRADE, Vitor Douglas de - UFOP
Orientadora: Flávia Falleiros
Palavras-chave: Ética da Crença; Justificação; Irresponsabilidade Epistêmica; William Clifford; William James
William Clifford nos conta a história de um armador que se preparava para zarpar um navio cheio de emigrantes. Este armador possuía muitas dúvidas sobre as condições do navio em sustentar a viagem, pois o meio transporte estava velho e tinha muitos defeitos; além do mais, foi sugerido por outra pessoa que talvez o veículo não estivesse em condições de navegar. Contudo, mesmo com várias preocupações que o atormentaram no início, ele conseguiu se encher de certezas emocionais as quais o dava esperança de que o navio estava funcionando adequadamente; isso o fez racionalizar a situação e se basear em alegações muito improváveis, como a de que o navio tinha resistido a tantas viagens e que portanto não teria razão para supor que nesta viagem o navio também não suportaria. O final narra que a atitude do armador acabou ocasionando em um naufrágio do navio que ceifou a vida de muitas vítimas, enquanto que o armador saiu ileso e recebeu o dinheiro do seguro. Clifford utiliza essa história para exemplificar o quão prejudicial podem ser as consequências da irresponsabilidade epistêmica dentro de uma sociedade. Ele aponta que os agentes, ao formarem crenças com indícios insuficientes, estariam prejudicando não apenas a si mesmos por estarem compreendendo a realidade com crenças potencialmente falsas, mas também a sociedade como um todo, pois estariam colaborando para criar uma cultura de maus hábitos epistêmicos e pouco zelo pelas investigações rigorosas. Com esses fatores, ele concluiu em seu texto “Ética da Crença” que seria moralmente errado, em todas as circunstâncias, para qualquer pessoa, acreditar seja no que for com base em evidências insuficientes. Existem muitas dúvidas se a normativa cliffordiana realmente traz mais consequências boas do que ruins para todos os casos em que se acredita em algo dispondo de poucas provas. William James dirá que a proposta de Clifford é prejudicial para a prática científica, pois todas as grandes teorias nasceram de muita irresponsabilidade epistêmica dos cientistas ao insistirem fielmente que suas hipóteses eram verdadeiras mesmo com poucos indícios iniciais para fazerem tal afirmação. Sendo assim, o que realmente permitiria o progresso da ciência seria uma certa dose de irresponsabilidade, tão criticada por Clifford. Também seria o caso de alguém muito doente e com poucos indícios de melhora, ela ter a crença de que irá melhorar poderá trazer mais benefícios do que não ter essa crença e manter-se na rigidez da posição cliffordiana. Será que essas alegações realmente derrubam a posição de Clifford? Este presente trabalho defenderá a posição cliffordiana de que é moralmente errado ter crenças sem evidências suficientes. Para tanto, irá reformular os principais argumentos apresentados por Clifford e traçará todo o trajeto feito pelo filósofo até chegar em sua conclusão. Após isso, analisará as principais objeções oferecidas ao Clifford, nomeadamente as apresentadas pelo filósofo William James. Por fim, irá responder as objeções e a apontar possíveis limitações da posição cliffordiana.