O conceito de alegoria, segundo Benjamin, no Cinema marginal brasileiro
SILVA, Lucas Bezerra da – UNESP
Orientadora: Ana Maria Portich
Palavras-chave: Alegoria; Walter Benjamin; Cinema marginal brasileiro
No final da década de 60 alguns filmes com propostas estéticas diferenciadas foram produzidos e receberam a alcunha de Cinema marginal. Esses filmes tinham em comum o gosto pela experimentação formal; representação de personagens marginalizadas e a tendência à representação grotesca; inseridos na contracultura, recusavam uma tradição erudita tradicional. Todas essas propostas estéticas são expressas em formas alegóricas, onde o contexto e a trama vivida pelas personagens não têm representação realista, mas pelo contrário, em alguns casos, tem até uma negação da própria representação. O presente trabalho procura mostrar, na análise de alguns filmes do cinema marginal brasileiro, a presença do conceito de alegoria tal como apresentado pelo filósofo Walter Benjamin em sua obra A origem do drama barroco alemão. Para tanto, utilizaremos como referência teórica as análises feitas pelo crítico de cinema Ismail Xavier em sua obra Alegorias do subdesenvolvimento. Nessa obra, o crítico destaca a presença de uma abordagem alegórica de certos temas caros a filmes produzidos no período de 1967 a 1969 como O bandido da luz vermelha (1968); O anjo nasceu (1969) e Matou a família e foi ao cinema (1969). N’A origem do drama barroco alemão Benjamin define a alegoria como uma forma pela qual o teatro barroco pôde expressar sua concepção de história, frente ao contexto social da Contrarreforma. Desse modo, os temas da morte e as intrigas palacianas são dispostos para expressar a concepção de história do período barroco, como história mundial do sofrimento. Para Benjamin, a alegoria é característica de uma sensibilidade que diagnostica uma fratura entre o homem e a natureza e sem a chance de transcender o tempo, vê a história como dado incontornável. Logo, a alegoria tem um papel muito importante no mundo contemporâneo, contestando o otimismo burguês capitalista com sua visão fragmentada e descontínua da história. A alegoria nega a teleologia que justifica a ideologia das classes dominantes, sendo o registro de um desencanto, evidenciando a experiência fragmentada no cotidiano no universo da mercadoria. Logo, a experiência de choque alegórica nasce de um mergulho nessa fragmentação. As alegorias têm papel central no cinema marginal brasileiro como síntese da experiência desencantada, desesperada de seus artistas à conjuntura política do final dos anos 60. A partir de certas referências e temas em comum, cada cineasta compôs uma alegoria particular, que, no entanto, expressavam essa experiência coletiva de um diagnóstico do subdesenvolvimento.