Voltaire e a forma do discurso filosófico
RODRIGUES, Ana Beatriz Alves – UNESP
Orientadora: Ana Maria Portich
Palavras-chave: Conto filosófico; Literatura; Iluminismo; Voltaire; Filosofia
O filósofo francês Voltaire (1694-1778) foi capaz de, primorosamente, trabalhar concepções de teor filosófico através de peças, romances e contos. O presente trabalho tem por objetivo trazer à luz o diferencial da escrita voltaireana a partir das considerações do teórico literário alemão Erich Auerbach (1892-1957). Acreditamos que tal exposição se faça fundamental na medida em que ela nos possibilita reconhecer que, à parte a forma do discurso filosófico padrão – que deve ser preservada – existem outras maneiras igualmente válidas de se filosofar, tais como a forma empregada por Voltaire em seus romances e contos. Sublinharemos os elementos explorados em suas produções, como o tempo – relativamente ao ritmo e à velocidade e, por consequência, a dinamicidade das suas cenas -, o procedimento de dépaysement – quanto ao olhar de uma personagem estrangeira dos nossos costumes mais caros e irrefletidos – e o exotismo – muito em voga no século XVIII, marcado pelo emprego de referências provindas da cultura oriental como fica claro, por exemplo, em seu conto Zadig, ou O Destino (1747).Destacaremos a postura de Voltaire no assunto em que se mostrou combatente tenaz: o dogmatismo religioso e seus desdobramentos morais. Segundo ele, a tolerância, pautada que é no reconhecimento da pluralidade, constitui-se como pilar dos mais importantes para acaminhada da humanidade em direção ao esclarecimento: não por acaso, o Iluminismo encontra na figura de Voltaire um de seus líderes. Desse modo, os recursos de linguagem adotados por ele, sobretudo o procedimento de dépaysement, evidenciam a defesa de uma visão racional e objetiva (como filósofo iluminista que foi), sem negligenciar a importância de ser mantido certo distanciamento em relação aos costumes que nos cercam. Seu modo brando de interpretara realidade, combinando-se razão e sentidos – com o auxílio de passagens bem humoradas – perpassa suas obras e cativa aos que pouco ou nada sabiam (ou sabem) do contexto filosófico de então.