A perspectiva de quarta-pessoa
ELEUTÉRIO, Felipe – UNESP
Orientadora: Mariana Claudia Broens
Agência de Fomento: FAPESP
Palavras-chave: Perspectiva de quarta pessoa; Identidade pessoal; Computação vestível
Temos por objetivo analisar as noções de perspectiva de primeira, segunda, terceira e quarta pessoa. Fazemos tal análise no contexto da investigação acerca da natureza da pessoalidade, considerando tais perspectivas, buscando clarificar capacidades constituintes da pessoalidade e formas de reconhecimento da pessoa nas relações interpessoais. Dessa forma, em um primeiro momento, buscamos tratar das perspectivas de primeira e terceira pessoa, marcadas pela posse significativa de uma língua natural na sua instanciação e, num segundo momento, apresentar a noção de segunda pessoa, indicadora de processos indiferentes à oralidade de atribuição de pessoalidade em interações presenciais e, quem sabe, interespécie. E, por último, ao tratarmos do possível impacto das novas tecnologias de computação ubíqua vestível nas relações sociais humanas, pretendemos caracterizar uma possível noção de “quarta pessoa”, a partir da qual a constituição da pessoalidade seria também mediada por tais tecnologias. A “perspectiva de primeira pessoa no sentido forte” (Baker, 2000) é a capacidade pela qual uma pessoa, uma vez falante de uma língua natural, atribui a si mesma conceitos a seu respeito e se reconhece como atribuidora desses conceitos. Esse fenômeno de autorreferenciação é irredutível à terceira pessoa, que se trata de uma perspectiva meramente impessoal, dita objetiva, por meio da qual a pessoalidade é referida por terceiros e é adotada pelas ciências naturais (Baker, 2013). O tratamento da pessoalidade em “terceira pessoa”, por sua vez, se daria de duas formas: 1) reduzindo a pessoalidade ao conceito de ser humano e 2) associando o conceito de pessoa à noção de mentalidade numa perspectiva “heterofenomenológica” (Dennett, 1992). Como uma alternativa a essas duas perspectivas de primeira e de terceira pessoa, a “segunda pessoa”, derivada dos estudos de cognição social, envolve casos de atribuição de mentalidade e pessoalidade de forma direta, ocorrendo em situações presenciais de mútuo contágio de estados mentais entre pessoas, que se reconhecem enquanto pessoas sem qualquer mediação de representações mentais ou conceitos psicológicos. Já no contexto de relações interpessoais mediadas por tecnologias ubíquas vestíveis, muitos interagem com sistemas de inteligência artificial ou com outras pessoas virtualmente, isso ao mesmo tempo em que podem realizar outras tarefas presenciais. É o que acontece em casos de quantificação pessoal. Para Melanie Swan (2013a), a quantificação pessoal permite que as pessoas estabeleçam uma relação de intimidade com os dados gerados por aparelhos de computação vestível ao serem usados para melhoria da qualidade de suas vidas, auxiliando a controlar vícios, sono, exercícios físicos, humor, etc. Desse modo, Swan (2013a, 2015a) define a perspectiva de quarta pessoa como um ponto de vista do usuário que, ao estabelecer relações de dependência com os dispositivos de computação vestível utilizados para quantificação pessoal, seus dados coletados passam a mediar processos introspectivos e como ele interage com seu entorno.