O jovem Lukács do ensaio “Da pobreza de espírito” e a promessa dialética de novos caminhos
REIS, Júlia Ferreira – UNESP
Orientador: Pedro Geraldo Aparecido Novelli
Agência de Fomento: CAPES / PIBID
Palavras-chave: Jovem Lukács; Estética; Solidão; Forma; Vida; Dialética
O presente trabalho pretende demonstrar as contribuições do ensaio “Da pobreza de espírito: um diálogo e uma carta”, da obra “A alma e as formas” para a dissolução do conceito de solidão “absoluta”, revestida por uma perspectiva kantiana nos textos do jovem Lukács, já que esse conceito é dissolvido no momento em que o autor considera a dialética hegeliana em seu sistema filosófico, sendo esse um dos ensaios que apontará parte dessa transição. O postscriptum de "A alma e as formas", em um esboço geral, pode ser definido como mais um ensaio da obra em que Lukács denuncia a solidão, a incomunicabilidade e as demais problemáticas da ruptura moderna eu e mundo (sujeito x objeto). Porém, em uma análise delicada deve ser levado em conta não só essas questões centrais de um capítulo que de certo modo sintetiza as críticas já feitas nos ensaios anteriores do mesmo livro, mas também as questões internas do próprio autor, já que, nas palavras de Carlos Eduardo Jordão Machado, é uma “paródia da relação Irma Seidler- Lukács” (MACHADO, 2004, p.20), ou seja, para a compreensão da totalidade desse ensaio, é necessário penetrarmos nas preocupações de jovem Lukács; no seu temor sobre a extrema subjetividade; no inspirável sacrifício de Kierkegaard em relação à Regine Olsen; e na sua postura formal que o separava da vida. Para o jovem Lukács, diante o caos que é a vida, a forma era a única capaz de conter algum sentido, por isso, para ser formal, Lukács desiste de sua relação com Irma; mas após um ano do término da execução de “A alma e as formas” ela se suicida. No ensaio “Da pobreza de espírito: um diálogo e uma carta”, ocorre algo parecido ao herói; para ele forma é vida e vida é nada, por isso ele sacrifica sua relação amorosa em detrimento de seu sistema filosófico; mas o desfecho do diálogo só acontece quando o herói percebe que por sua amada ter morrido sua obra é consumada. Sendo percebida por ele que não existe forma sem vida vivida, ou seja, a forma e a vida tem entre si mesmas uma relação dialética; “se o único caminho que uma alma tem para se expressar é a comunicação com outra alma viva, quando esta desaparece, o silêncio se apossa daquela que fica, e então a possibilidade de uma forma vital e expressiva é anulada.” (LUKÁCS, 2015, p.24). Como é ressaltado por Judith Butler “O diálogo deságua num reconhecimento dialético: a forma surge apenas quando se abandona a vida, porém, quando o corte é muito profundo e a forma nulifica a vida, então nada resta que possa sustentar e vivificar a forma.” (BUTLER, 2015, p.25). Com isso podemos dizer que mesmo com o fracasso da comunicação, do amor e com a redenção literária, essa mudança trouxe “a promessa dialética de novos caminhos” (BUTLER, 2015, p.25), abrindo margem já no próprio texto para a dissolução de um kantismo trágico na estética do jovem Lukács, e por consequente, do conceito de solidão “absoluta”.