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O aspecto filosófico do non finito em Michelangelo

RODRIGUES, Leonardo da Silva – UNESP

Orientadora: Ana Maria Portich

Palavras-chave: Michelangelo; Non finito; Platonismo

Ao crepúsculo da experiência gótica de organização em companhias de ofício, que data do final da Idade Média, se segue uma crise no costume das corporações. Os mestres colocam-se a dificultar a sequência usual de promoção de seus aprendizes, de modo que estes deixam de possuir acesso à maestria, que passa a ser reservada à família ou aos próximos do mestre. O mestre então assenhora-se dos meios de produção das corporações e relega aos aprendizes e companheiros a condição de dependência integral, uma vez que os artistas individuais que tentarem exercer o 'métier' por conta própria sem a legitimação do mestre caem na ilegalidade. Paulatinamente, o ateliê medieval adota uma forma de organização comum à da manufatura, onde há degradação das condições de labor, divisão deteriorada do saber, queda na remuneração, rotina produtiva, perda de qualidade do produto final e altos impostos. Frente ao cenário descrito, os artistas revoltam-se contra a degradação das condições de trabalho e passam a reivindicar um tipo de trabalho que glorifica a liberdade produtiva e, portanto, diferencia-se radicalmente da produção artesanal das corporações. Este breve cenário proporcionará, no Renascimento, a proliferação de diversas técnicas de representação nas artes plásticas, atreladas à diferenciação e superação do trabalho empregado nas corporações de ofício. Uma destas técnicas, que vai de encontro com o ápice do conflito criativo dos artistas no Renascimento, é o non finito, que consiste em deixar inacabado (no caso da escultura) ou com aspecto pictórico (no caso da pintura) o representado. O objetivo deste trabalho é fazer uma leitura filosófica do non finito empregado por Michelangelo Buonarroti em diversas esculturas, aproximando-o do conflito filosófico que permeia sua produção artística. Para tanto, pretende-se não apenas explicitar o vínculo do artista toscano com a filosofia neoplatônica, que é evidente em seus poemas e nos temas de suas pinturas, mas também levar em consideração o aspecto social no qual Michelangelo se encontra, na busca de problematizar a razão pela qual o non finito toma protagonismo apenas no final de sua produção artística.

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